sábado, 25 de dezembro de 2010

Uma Casa de Candomblé


    Para existir um Ilê (casa de candomblé), é necessário um Babalorixá ou Yialorixá, competente, iniciado dentro da lei, seguindo rigidamente ao longo dos seus anos de iniciação suas normas e preceitos, pois somente assim terá o aval, o consentimento, o asé necessário para desenvolvimento das suas atribuições, atributos esses consignados por seu iniciador no nosso plano material, e seu consequente desempenho com resultados positivos junto à sua comunidade, que só serão obtidos com a aquiescência dos orisás que os monitoram de forma permanente, permitindo ou até mesmo interrompendo uma situação de resultados realmente significativos, quer seja na sua leitura esotérica ou no trato com o povo. Como ninguém planta de manhã para colher à tarde, um Ilê com Asé, é estruturado com estudo, aprendizado, dedicação, humildade, respeito e principalmente, conduta ritual, a medida que vai "merecendo" os orisás vão lhe "dando" ao ponto de se obter uma estrutura suficiente, para o início das atividades de um novo Ilê.
Em alguns casos, até mesmo por falta de um controle e fiscalização, por parte de uma Confederação legitimada, decorrente da não organização dos adeptos, muitos por conveniência, tem casas que são verdadeiros comércios (não pelo fato de cobrarem algum benefício financeiro para sua manutenção e sustento) pelo exagero dos valores pedidos, se aproveitando do medo e da inocência de algumas pessoas, outras instituem total libertinagem por conveniência de seus comandantes e comandados, outras pela sua ignorância ou mal iniciação, em vez de ajudarem acabam causando um mal maior, e, infelizmente somos abrigados a conviver com essas situações que denigrem como um todo a nação candomblecista; Mas como Osalá é sublime essas barreiras de alguma forma são superadas, não colocando em risco a religião yorubá, e tão somente fornecendo subsídios à algumas alas de algumas Igrejas, que se aproveitam desses casos de exceções para se enaltecerem e nos escrachar, com objetivos de "angariar" mais fiéis, visando uma melhoria de arrecadação, mas como Deus é único, de alguma forma nos protege e seguimos adiante. As pessoas que frequentam uma casa de candomblé, basicamente são: praticantes, simpatizantes e usuários. A procura por esta religião tanto para prática como consulta, muito é em virtude de um atendimento pessoal e individualizado, em que as pessoas tem uma participação ativa, naquele instante a pessoa não é uma a mais numa multidão, mas o centro das atenções, de uma forma que possa canalizar toda sua fé, para obtenção do seu objetivo, e frise-se, a fé é fundamental e necessária para qualquer intento, onde cada um deve fazer o melhor possível a sua parte, no caso de quem está sofrendo a ação, comparecer fisicamente com o material no dia e hora marcado, quando solicitado ou orientado para tal, e fazê-lo com muita fé e dedicação.


    A hierarquia

    Observância de uma hierarquia rígida é o instrumento que mantém permanentes as instituições, como o Estado, o exército, a religião... sua tradução literal expressa: ordem e subordinação dos poderes eclesiásticos, civis e militares; graduação de autoridade, correspondente às várias categorias. Em princípio, é o tempo de iniciação religiosa que conta, vale o ditado - antiguidade é posto - seguido do Oye (cargo) que a pessoa ocupe; o mais velho é sempre o mais velho, não importa que mais moço tenha seu cargo religiosos de maior importância; exceção única, feita ao Babalorisá ou Yialorisá, que por poder absoluto, está acima de todo e qualquer outro. De casa para casa ou de nação para nação, variam os cargos e seus nomes, e um ou outro detalhe da escala hierárquica, Via de regra são: - abians - por exprimir uma vontade de participar, ou escolhido a fazer parte da comunidade, recebe do babalorisá, um fio de contas "lavado" (colar ritual, símbolo do orisá do neófito), ou tenha se submetido a um bori (dar "comida" à ori , cabeça física e astral); participam no Ilê, ajudando com tarefas civis, nas festas, na limpeza e arrumação e decoração do barracão, preparo de café e almoço, alguma ajuda na cozinha ritual, onde são preparadas as oferendas dos orisás e demais tarefas afins. - Iyawô - o iniciado, também chamado de adoxú (aquele que levou adoxum ), neste período não lhes são revelados segredos, ficará recluso alguns (que variam de 7 a 21, conforme sua nação), num lugar chamado roncó ou camarinha, um quarto fechado, com algumas esteiras, é confiado aos cuidados do seu ojúbonà (pai-pequeno ou pai-criador) que o auxiliará e ensinará alguns comportamentos durante todo período da iniciação, o qual juntamente com o iniciado, manterá resguardo neste período. Em um primeiro momento é feita a raspagem do cabelo, símbolo de submissão e humildade e preparo do oxú (o alto da cabeça, a moleira astral, chacra principal do corpo humano) para as obrigações principais. Neste período o iniciado tem como objetivo principal receber asé, a qual será responsável, pelo seu aumento e manutenção, através da rígida observância, da sua conduta ritual. Completados sete anos de iniciação, os iyawôs , após fazem sua "obrigação" ritualística que os 7 anos requer, tornam-se ègbónmí (egbomi - "irmão mais velho"), e tem direito a Ter seu próprio Ilê com a benção e autorização do seu babalorisá, bem como Poderá fazer parte do grupo dos Oloiês. - Oloiês`-, podem adoxús ou não-adoxús; os OGÃS, que quer dizer - chefe - podendo em alguns casos, ter seus otuns e osis ; os postos de AXOGUN, ALABÊ, OGOTUN, AFICODÉ, IPERILODÉ, ELEMOXÓ, ILÊIGBÓ, PEJIGAN em paralelo a IYAEGBÉ, IYAKEKERÉ (mãe pequena), BABÁKEKERÊ (pai pequeno), YIÁMORÔ, AJOIÊ ou EKÉDE, DAGÃ, SIDAGÃ, em casa de Sangô, o cargo da KOLABÁ, a IYÁ SIHA (relacionado a um ato litúrgico de Osalá), IYÁEFUN(BABÁ), IYÁLOSSAIN (BABÁ), IYÁBASÉ. Mais especificamente no ILÊ AXÉ OPÔ AFONJÁ tem os OBÁS DE SANGÔ, seis da direita (otuns), com voz e voto; seis da esquerda (osis) somente com voz. - Agbá - duas condições a um só tempo: a) antiguidade iniciática (mais de 50 anos); b) antiguidade cronológica (mais de 60 anos). - Iyálorisá - (Iyálasé)/Babalorisá. Uma fila hierárquica, a exemplo da que acontece nas "Águas de Osalá" assim e procede: Iyálorisá (babá), seguindo os demais Adoxú, quer sejam oloiês ou não, de acordo com o tempo de iniciação, sempre o mais velho na frente do mais moço, sendo a segunda da fila a(o) Iyáegbé (mais velho(a) adoxú do axé e segue a fila de acordo com o tempo de iniciação, atrás do último adoxú, alternando-se ogans e ajoiés, de acordo com o tempo de confirmação, atrás virão ao abians. O mais velho é tudo; sempre se é iyawô para o imediato "mais velho", no próprio "barco" (mais de um iniciado recolhido ao roncó para iniciação) de iyawôs encontramos a figura do mais velho, chamado dofono , e sucessivamente dofonitinho, fomo, fomotinho, gamo gamotinho... ao dofono é aquele a quem se pede a benção em primeiro lugar, devendo, este, contudo, ser o primeiro a servir seus demais irmãos mais moços. É muito importante o mais velho se colocar no difícil papel; é o responsável - sem que muitas vezes saiba - pelo futuro do seu mais novo, seus anseios, esperanças, fantasias...


    A quizila e as proibições

    A quizila é uma forma de reação negativa que atinge as pessoas, quer seja fisicamente, causando algum mal estar, ou, na vida pessoal gerando algum "atrapalho" ou perda; e, acontece quando comemos ou fazemos algo que não devemos; todos os orisás tem suas quizilas, e como filhos devemos respeitá-las, por exemplo: não devemos comer determinadas comidas, que são oferecidas aos orisás, pelo fato que, quando oferecemos à eles esta comida, eles "transformam" as energias daquela comida, em energia positiva para nós, das quais estamos precisando constantemente, portanto é comida do orisá, não nossa. A quizila, em alguns casos, é como se fosse uma "alergia" natural, que comemos alguma coisa, e imediatamente temos uma reação alérgica, porém a mais perigosa é aquela que não sentimos de imediato alguma reação, o que erradamente leva alguns filhos de santo, usarem, um sistema, Ah! Eu comi, não fez mal, não terá problema, aí é que se enganam, pois a reação virá quando menos esperam, atingindo de alguma outra forma. Os iniciados sabem o que devem respeitar, se não o fazem é por serem descomprendidos, evidente que há casos de desconhecimento, por uma má iniciação, e muito mais valor terá, se gostarmos daquilo que não podemos, pois é muito fácil se evitar, o que não gostamos. As proibições mais comuns, são com relação a determinadas comidas, temperos, folhas, bebidas, cores...

Ori


Orí

Combinação de ODU de IFÁ - IRETE (14) e OFUN (16)

"ATEFUN - apelido de Ifá sábio - Adivinhava o oráculo às 401 divindades, estavam indo ao estado de perfeição, o sábio de ORI "adivinhou" oráculo para ORI; ORI estava indo ao estado de perfeição (ÒDE-ÀPÉRÉ), mandou-lhe fazer sacrifício, SOMENTE ORI, O ÚNICO QUE FEZ, O SEU SACRIFÍCIO FOI ABENÇOADO, portanto ORI é maior que todas as divindades, ORI é mais forte que as divindades, somente ORI chegou no estado de perfeição. O iniciado sacrificou! ORI é forte, mais que os orixás."

Para qualquer Yoruba, a palavra ORI tem uso amplo. ORI num primeiro momento quer dizer cabeça; e simboliza também - o ápice de todas as coisas; o mais alto desempenho, portanto contém o superlativo ou seja o Zénite. Por exemplo, a cabeça é a parte mais alta e mais importante do corpo humano, é a moradia do cérebro que controla o corpo inteiro. O líder ou chefe de qualquer organização é referido como "Olóri" (a cabeça), ORI é cabeça, cabeça é alta, alto é supremo e o ser supremo é ÔLÔDUMARÊ (Deus maior).

No corpo humano ORI se subdivide em duas colocações:

1) a cabeça física - é o crânio humano, onde está o cérebro que usamos para o pensamento e controle das outras partes do corpo; consciente ou inconsciente; os olhos para tudo ver; o nariz para respirar e cheirar; orelhas para ouvir; a boca para alimentar e falar; a língua para saborear; nossa essência masculina ou feminina está na cabeça, o rosto que dela faz parte nos distinguem uns dos outros, imprimindo uma identidade individual; sem a cabeça o homem e mulher seriam como qualquer "X".

2) a cabeça espiritual está subdividida em mais duas partes a saber:


Cabeça Espiritual

APARÍ-INÚ (Cabeça espiritual interna) - ORÍ-ÀPÉRÉ (santo pessoal, destino ou parte divina de cada um: escolhido no domínio de ÀJÀLÁ - divindade de ORÍ.

ORÍ-ÀPÉRÉ é acumulação de destino individual; Isto é: ÀKÚNLÈYÀN, ÀKÚNLÈGBÁ e ÀYÀNMÓ.

AKUNLEYAN é a parte do destino que cada um escolhe por vontade (livre arbítrio) própria AKUNLEGBA é a parte do destino o qual está adicionada como complemento de AKUNLEYAN AYANMO é aquela parte do destino que nunca pode ser mudado. Por exemplo - pais, sexo, karma, etc. Mas Akunleyan e Akunlegbá podem ser melhorado enquanto Ayanmó não pode ser modificado . O destino ORÍ-APÉRÉ está escolhido no domínio de AJALÁ (divindade de Orí)

APARI INÚ é de caráter individual, uma pessoa poderia chegar a terra com bom destino, mas, sem boa conduta; A maldade da cabeça espiritual interna danificará definitivamente o bom destino, o inverso também acontece. Porém o "destino" pode ser modificado, numa certa medida, quando certos segredos são conhecidos, dentro de um contexto e conhecimento da Teologia Yorubana.

Contudo ORÍ é o mais importante entre as divindades. Na ordem de importância - o primeiro é Orí; o segundo é a mãe, e se ela tenha morrido, seu espírito; em terceiro lugar é o pai, e se tenha morrido, o seu espírito; em quarto lugar, IFÁ e a seguir, seu orixá e as outras divindades. (Por Gbolahn Okemuyiwa e Awo Ademola Fabunmi - traduzido por: Adélékè Àdìsá Ògún)

Ser humano - somatória - O Criador, o procriador, procriadora e ser procriado.

Para ser adivinhador, no sentido mais elevado é "SER DIVINO", provido de conhecimento e alguma coisa ainda mais misteriosa.

Os dois sinais da divindade humana ou humanidade divinizada são: predições e milagres. Para ser um Profeta é ver ante mão os efeitos; os quais existem causas, ler a luz transcendental; fazer milagres é agir sobre agente universal e sujeitá-lo a nossa própria vontade





Òrúnmìlà


Deus do destino, regente dos oráculos, Òrúnmìlà é um outro nome de Ifá.

Não é Orisá.
Encontra-se num plano mítico e simbólico superior ao dos outros orisás. Se Olórún é o ser supremo dos yorubás, o nome que dão ao Absoluto, Òrúnmìlà é a sua emanação mais transcendente, mais distanciada dos acontecimentos do mundo sub-lunar.

Ritual de Òrúnmìlà é extremamente rico e complexo e atesta a profundidade da tradição yorubá preservada, em alguns lugares no Brasil, tornando-o de fato equivalente, em riqueza mítica e simbólica.

Na tradição de Ifé é o primeiro companheiro e "Chefe Conselheiro" de Odùduà quando da sua chegada à Ifé. Outras fontes dizem que ele estava instalado em um lugar chamado Òkè Igèti antes de vir fixar-se em Òkè Itase, uma colina em Ifé onde mora Àràbà, a mais alta autoridade em matéria de adivinhação, pelo sistema chamado Ifá. É também chamado Àgbónmìrégún ou Èlà. É o testemunho do destino das pessoas e, por esta razão, é chamado Eléèrì Ìpín.

Os babalaôs (pais do segredo), são os porta vozes de Orunmilá, que não é Orisá nem ebora. A iniciação de um babalaô não comporta a perda momentânea de consciência que acompanha a dos orisás. Não se trata de ressucitar no incosciente do babalaô o "eu perdido", correspondente à personalidade do ancestral divinizado.
É uma iniciação totalmente intelectual. Ele deve passar um longo período de aprendizagem, de conhecimentos precisos,em que a memória, principalmente, entra em jogo. Precisa aprender uma quantidades de Itans (histórias) e de lendas antigas, classificadas nos duzentos e cincoenta e seis odú (signos de Ifá), cujo conjunto forma uma espécie de enciclopédia oral dos conhecimentos do povo de língua yorubá.

Todo indivíduo nasceu ligado a um desses 256 odú. No momento do nascimento de uma criança, os pais pedem ao babalaô para indicar a que odú a criança está ligada. O odú dá a conhecer a identidade profunda de cada pessoa, serve-lhe de guia na vida, revela-lhe o orixá particular ao qual ele deve eventualmente ser dedicada, além do da família, e dá-lhe outras indicações que a ajudarão a comportar-se com segurança e sucesso na vida.
Dois sistemas permitem ao babalaô encontrar o signo de Ifá que está sendo procurado, chave do problema que lhe apresenta o consulente. Um deles é bastante elaborado, manipula-se de acordo com certas regras, dezesseis caroços dos frutos do dendezeiro, chamados "coco de Ifá", os ikin ifá, o outro é mais simples e consiste em utilizar um opele ifá, uma corrente onde estão enfiadas oito metadas do caroço de uma certa fruta.

Um odú de ifá é formado pelo conjunto de duas colunas verticais e paralelas, de quatro índices cada uma; cada índice compõe-se de um traço vertical ou de dois traços verticais. Há dezesseis combinações possíveis para cada uma das colunas e cada uma delas tem um nome.

1) Ogbè
2) Oyèkú
3) Ìwòri
4) Òdí
5) Ìrosùn
6) Òwónrín
7) Òbàrà
8) Òkànràn
9) Ògúndà
10) Òsá
11) Ìká
12) Òtúrúpòn
13) Òtúrá
14) Ìrètè
15) Òxé
16) Òfún

Cada um desses dezesseis nomes justapostos, com eles mesmos ou com algum dos quinze outros, forma o nome de um dos duzentos e cincoenta e seis odú.

Orunmila embora não seja um orisá, participa muitas vezes nas histórias de Ifá, da vida e das aventuras dos deuses yorubás.