terça-feira, 26 de julho de 2011

O NASCIMENTO DO SISTEMA DE ADIVINHAÇÃO DE IFÁ

Sem dúvida, o sistema religioso Yorùbá é muito interessante e extenso em tópicos a se aprender. Dentre esses, o mais interessante, importante e mais difícil é o sistema de adivinhação de Ifá, e é sobre isto que vamos falar hoje.
Segundo o escritor Wande Abimbola, no livro "Os Dezesseis grandes poemas de Ifá", esse sistema nasceu do seguinte fato:

A história começa na época em Ifè, quando Òrúnmìlà não tinha filhos e seus inimigos gabavam-se de que "O Pai jamais teria filhos nesta cidade de Ifè". Mas, seus inimigos provaram que estavam errados porque Òrúnmìlà mais tarde teve oito filhos. E todos os oito tornaram-se importantes reis em várias partes da terra Yorùbá.

O primeiro filho nascido foi coroado como Alárá (rei de Àrá); o segundo foi instalado como Ajerò (rei de Ìjerò); e o último deles a nascer tornou-se o Olówò (rei de uma importante cidade Yorùbá chamada Òwó.
Durante uma importante ocasião, quando Òrúnmìlà estava celebrando um ritual, Ele chamou seus oito filhos, que tinham se tornado todos notáveis chefes de seus próprios domínios. Quase todos eles responderam e prestaram obediência ao Pai, saudando-o com as palavras: "Aboru, bòyè bò síse" (Que possam os rituais e oferendas serem aceitos).

Mas, Olówò, o último nascido de todos eles, recusou-se a saudar seu Pai. Além do mais, ele estava vestido exatamente do mesmo modo, como as vestes de Òrúnmìlà, numa ação que simbolizava a rejeição à autoridade de seu Pai e sua superioridade. Enquanto que, seus sete irmãos mais velhos saudaram antes seu Pai, ele recusou-se a saudar e ficou ereto. Seu Pai mandou-o dizer a saudação, como seus irmãos, mas, ele recusou-se e disse:

"Você Òrúnmìlà, envolveu-se com aso odún (roupas de festa).
Eu Olówò, envolvi-me com roupas de festa.
Você Òrúnmìlà, leva o òsùn, o cajado feito de latão.
Eu Olówò, levo o òsùn, o cajado feito de latão.
Você Òrúnmìlà, usa um par de sandálias de latão.
Eu Olówò, uso um par de sandálias de latão.
Você Òrúnmìlà, usa uma coroa,
Eu Olówò, também uso uma coroa.

E usualmente é dito que: ninguém que usa uma coroa Baixa a cabeça para saudar uma outra pessoa."
O resultado destas ásperas palavras, denotando total rejeição à autoridade de Òrúnmìlà sobre seus próprios filhos, foi que o deixou enfurecido, e Ele arrebatou o òsùn, o cajado de Olówò. Esta ação simbolizava a apreensão da autoridade de Olówò, cajado que é usado somente por sacerdotes altamente graduados, como um símbolo de sua autoridade e superioridade. A apreensão do de Olówò, portanto, representou a retirada da autoridade que Òrúnmìlà tinha dado aos seus filhos como importantes sacerdotes. Mas, a reação de Òrúnmìlà à tola ação de Olówò não pára por aí. A desobediência filial causou o retorno final de Òrúnmìlà para o Òrun, onde Ele assentou sua tenda aos pés de uma palmeira muito alta, que se esgalhava por aqui e por ali e que tinha dezesseis choupanas como topo (dezesseis grandes folhas).

A conseqüência para a Terra foi a fome, epidemias, caos e confusão. Isto não era surpresa para Òrúnmìlà, que representava o princípio da ordem, sabedoria, autoridade, fertilidade e continuidade. A chuva parou imediatamente de cair. O ciclo de fertilidade tanto das plantas quanto dos animais foi interrompido, ameaçando o homem e seus empreendimentos de total extinção.
Os habitantes da jovem terra viram-se frente a frente com a catástrofe e a extinção, e clamavam a volta de Òrínmìlà. Eles pediram aos seus filhos que fossem rogar ao seu Pai para que retornasse à Terra, para que assim a paz, ordem e a continuidade pudessem ser restauradas.
Quando os filhos de Òrúnmìlà chegaram ao Òrun (naquela época, na mitologia Yorubana, não existia uma completa separação entre o céu e a terra), eles imploraram ao seu Pai que retornasse para a Terra. Eles cantaram seus nomes de louvores e insistiram para que Ele voltasse com eles para casa. Mas, seu Pai embotado, recusou-se a seguí-los, então:

"Ele mandou-os estenderem suas mãos para adiante,
E Ele lhes deu dezesseis nozes sagradas da adivinhação de Ifá.
E disse: "Quando vocês chegarem em casa,
Se vocês desejarem ter dinheiro,
Esta é a pessoa a quem vocês terão de consultar...
Se vocês desejarem esposas,
Esta é a pessoa a quem vocês consultarão...
Se vocês desejarem ter filhos,
Esta é a pessoa a quem vocês consultarão..."

Assim Òrúnmìlà restaurou-se e a sua autoridade com as dezesseis nozes sagradas da adivinhação de Ifá, conhecidas como Ikin. Quando estava na Terra, Òrúnmìlà tinha direta ligação entre o Òrun (céu) e o Ayé (terra). Com seu retorno final para o Òrun e o nascimento das dezesseis nozes sagradas, nenhum intermediário mais existiu no processo de comunicação com o Òrun; teriam de ir às dezesseis nozes sagradas antes deles alcançarem os poderes celestes. Assim, o sistema geomântico de Ifá, baseado numa elaborada parafernália de adivinhação e um complexo corpo literário, nasceu. Embora, Òrúnmìlà, como muitas outras divindades Yorùbá, finalmente tenha retornado para o céu, Ele legou aos seus discípulos um sistema através do qual o povo Yorùbá acredita, que os desejos de Olódùmarè e das outras divindades podem ser verificados.
       
A história completa pode ser lida no livro "SIXTEEN GREAT POEMS OF IFA", de Wande Abimbola.
Ase àti ó dàbò!
Sem o auxílio de Èsù nós sabemos que nada é realizado, e como todos os rituais o da adivinhação também reverencia e oferenda Èsù. Ifá e Èsù won ní àsepo (têm estreita ligação), portanto  vão aqui alguns

EPÍTETOS de Èsù:

Àbèsùmolè                           Pessoa que cultua Èsù
Akín Osó                             A força de Èsù nos feiticeiros
Èsù Bíyí                               Nascido de Èsù
Èsù Pònle                            Elogiado por Èsù
Èsù Gbómi                          Èsù aceita água
Èsù Gèèmi                           Èsù me apóia
Adéèsù                                Coroado por Èsù
Èsùdódé                              Èsù acabou de chegar
Èsù Gbàyí                           Aceito por Èsù
Elégbára                             Senhor da força, do poder
Èsù Ònà                              Èsù do caminho
Èsù Olónà                           Èsù Senhor do caminho
Èsù Orítà Métà                   Èsù da encruzilhada de três saídas
Èsù Òkú Òrun                     Èsù que leva os mortos para o outro mundo
Èsù Òdàrà                           Èsù que traz coisas boas
Èsù Bára Kéjì                      Èsù que tem dois corpos
Èsù Láàlú                            Èsù coletor dos impostos das cidades
Èsù Gbé L'òsí Ònà              Èsù que mora do lado esquerdo do caminho
Èsù Elérù                              Èsù que transporta os carregos
Èsù Elébo                             Èsù que transporta as oferendas
Èsù Olútójú                          Èsù guardião
Èsù Enugbàríjó                    Èsù que fala pela boca dos outros
Èsù Ojúríwa                         Èsù que vela pelas nossas cabeças
Èsù Òòta                              Èsù oficial da guarda
Bára ó Bebe                         Èsù realiza coisas maravilhosas
Èsù Òjíse                             Èsù mensageiro
Èsù Bara Ifá                        Èsù guardião de Ifá
Èsù pa eye l'anon pèlú        Èsù matou um pássaro ontem com a pedra que ele atirou hoje.

sábado, 16 de julho de 2011

Oduduá

O nome Oduduá pode ser traduzido como a cabaça de onde jorrou a vida. Muitos costumam se enganar e a afirmar que Oduduá seria um Orisá masculino ao invés de feminino, mas o que ocorre é uma confusão entre a divindade feminina Oduduá com o ancestral iorubano divinizado Oduduá, que na verdade é conseiderado em território africano como sendo uma forma humana da deusa Oduduá, ou seja, o guerreiro legendário e a deusa Oduduá seriam as mesmas pessoas. Esta é uma visão muito ampla no que concerne à essência divina mas isso é algo que vai muito além da capacidade de aceitação de algumas pessoas e sacerdotes.

O surgimento de Oduduá, bem como o de Obatalá, é muito interessante. Diz-se que involuntariamente nos primórdios da criação, quando a única coisa existente nos mundos era o Olorun, a grande energia primordial, Oduduá, a deusa, surgiu do corpo de Olorun, a grande energia primordial, assim como Obatalá e outra tantas divindades.
Foi Oduduá quem criou a terra e todo o universo como o conhecemos e, ao lado de Obatalá, possibilitou o surgimento da vida.

Odùduwà chegando ao Àiyé, cria tudo o que era necessário e delega poderes às divindades que o seguiram, conhecidos como os Àgbà, para governarem a criação, e volta ao Òrún, e só retornaria quando tudo estivesse realmente concluído. Òrìsànlá, que tinha ficado no Òrún com seus seguidores, já tinha moldado corpos suficientes para povoar o inicio do mundo, vai então para o Àiyé, com seus seguidores, os Funfun; fato que ocorre antes da volta de Odùduwà para o Àiyé.

Quando Olófin Odùduwà retorna ao Àiyé, funda a cidade de Ilê-Ifé, e vem a ser o primeiro Oba (rei) do povo yorubano com o titulo de "Oba Óòni", ou seja, o primeiro Óòni de Ifé, e a cidade se torna a morada dos deuses e dos novos seres.
Durante todo este tempo, Odùduwà que já estava casado com Ìyá Olóòkun, divindade feminina, responsável e dona dos mares, tem dois filhos, o primogênito, a divindade Ògún e uma filha de nome Ìsèdélè. O tempo passa, e Odùduwà, que era uma divindade negra, porém albina, incumbe seu filho Ògún de ir para a aldeia de Ògòtún, vizinha de Ifé, conter uma rebelião.

Ògún, divindade negra, senhor do ferro, parte para sua missão e realiza o intento, trazendo consigo Lakanje, filha do rebelde vencido. Ora, Lakanje era espólio de Odùduwà, o Óòni de lfé, portanto intocável, mas Lakanje era muito bela e extremamente sensual e Ògún não resistiu aos seus encantos e com ela teve várias noites de amor, durante sua viagem de volta. Chegando a lfé, ele entrega os espólios da conquista, inclusive Lakanje, a seu pai Odùduwà, que também não resistiu aos lindos encantos da mortal Lakanje e por ela se apaixona e acabaram por casar-se. Ògún nada tinha contado a seu pai dos fatos ocorridos e logo após o casamento Lakanje está grávida, desta gravidez nasce um filho de nome Odéde.

Só que o destino foi fatídico, Odéde nasceu metade negro, como a pele de Ògún e metade branco, como a pele do albino Odùduwà, revelando assim, a traição de Ògún para com a confiança do seu pai, esta situação gerou muita discussão entre Odùduwà e Ògún, mas a principal foi "quem tinha razão", ou, quem teria mais "genes" no filho em comum, Odéde, e cada um se posicionava com a seguinte frase : "a minha palavra triunfou" ou "a minha palavra é a correta", que aglutinada é Òrànmíyàn e foi assim que ele passou a ser chamado e conhecido.

Com Lakanje, uma das muitas esposas de Odùduwà, ou com outras, teve ou já tinha mais seis filhos, outros dizem dezesseis, uns, um número maior ainda, enfim, alguns dos filhos destas esposas, geraram as linhagens dos Obas Yorubanos, uns foram os precursores de sete das principais tribos, ou mais, que deram origem à civilização dos yorubas, e religiosamente falando, todos os povos do mundo. Os filhos, netos ou bisnetos de 

Odùduwà, os deuses, semideuses e/ou heróis, formaram a base da nação yoruba, portanto Olófin Odùduwà Àjàlàiyé é aclamado como "O Patriarca dos Yorubas".
Obàtálá (Òrìsànlá), que também já estava no Àiyé com sua comitiva, mas devido a grande rivalidade com Odùduwà, foi expulso de Ilê-Ifé e funda a cidade de Ìgbò e se torna o primeiro Obà Ìgbò chamado também de Bàbá Ìgbò, pai dos ìgbòs. Numa sociedade polígama, Òrìsànlá é um caso raro de monogamia, pois a divindade Yemowo foi sua única esposa e não tiveram filhos.

ORIXÁ FUNFUN - A MAIS ALTA HIERARQUIA

Como vimos, as divindades africanas estão separadas em duas categorias hierárquicas. Na categoria mais elevada, encontram-se as entidades que participaram da CRIAÇÃO DO UNIVERSO (Cosmogenesis), consideradas como ancestrais espirituais de tudo quanto possa ocorrer nos dois planos de existência, chamadas, para diferenciá-las das demais, de "Orixás Funfun" (Orixás Brancos).

Neste aspecto, a filosofia religiosa yorubana em muito se assemelha à budista que afirma que, "Não há um criador, mas uma infinidade de potências criadoras que formam em seu conjunto, a substância Una e Eterna, cuja essência é inescrutável e por conseguinte, insuscetível de qualquer especulação por parte de um verdadeiro filósofo".

Sendo emanações diretas de Olorun, os Orisás Funfun são portanto, os seres mais elevados da escala da existência, encontrando-se no mesmo nível dos Arcanjos do cristianismo e dos "Filhos Maiores Nascidos da Mente de Brahma" descritos nos Vedas, denominados Devas, Pitris, Rishis, etc...

Estas Divindades Criadoras são encabeçadas por OBATALÁ, O Senhor das Vestes Brancas, também conhecido como Orinsaala, Orisánlá ou Osalá. Osalá é o Sopro Divino, a primeira manifestação individualizada de Olorun que é a vida una, eterna, invisível, mas onipresente; sem princípio e sem fim; inconsciente, mas Consciência Absoluta; incompreensível, mas realidade existente por si mesma. Osalá o Sopro-Divino, provoca o movimento que fecunda e energisa o Eterno em repouso no Oceano-do-não-ser, onde tudo existe sem forma e, ocasionando o surgimento da diferenciação, desperta o Plano Divino, onde jaz oculta a elaboração de todos os seres e coisas futuras.

Obatalá, o Primogênito Divino, ao fecundar o Oceano Caótico composto de matéria inerte e informe, provoca a explosão da vida, ocasionando a primeira manifestação da Natureza, feminina, porque passiva.
Tudo o que exista ou possa existir é oriundo desta essência até então inerte e que, após haver sido tocada, fecundada pelo princípio masculino, manifesta-se e recebe o nome de Oduduwa.

As Águas-Abstratas-do-Espaço transformam-se nas Águas-da-Substância-Concreta, impulsionadas por Obatalá que é na realidade, o Verbo ou Logos manifestado que, por sua ação fecundadora, representa o princípio masculino da criação, longe portanto de ser andrógino como propõem alguns iniciados ao afirmarem ser ele, a um só tempo, macho e fêmea.

Os Orisás Funfun são, em última análise, entidades da mesma categoria que Madame Blavatski classifica os Seres Primordiais, "Dhyân Chohans dos ocultistas, Rishi-Prajâpati dos hinduístas, Elohim ou Filhos de Deus dos judeus, Espíritos Planetários de todas as nações que, sendo considerados deuses, foram adorados e cultuados pelos homens."
Verger afirma que ..."os Orisás Funfun são em número de cento e cinqüenta e quatro,...Orisá Olufón Ajígunà Koari; Orisá Ogíyan Ewúleé Jigbo; Orisá Obaníjita; Orisá Akire; Orisá Eteko Oba Dugbe; Orisá Olojo; Orisá Arowu; Orisá Onírinjà; Orisá Ajagemo; Orisá Jayé; Orisá Rówu; Orisá Olóba; Orisá Oluofin; Orisá Eguin; Etc...

BIBLIOGRAFIA:
1 - LÉPINE, C. Contribuição ao estudo do sistema de classificação dos tipos psicológicos no Candomblé Kétu de Salvador. São Paulo, USP, 1978. Tese de doutorado. - Yoruba Beliefes and Sacrificial Rites - Longman Group Limited - 1979.
2 - Dieux d'Afrique. Paris, Paul Hartmann, 1957
3 - Oxalá e Exú acumulam as funções de geradores e de provedores dentro do contexto religioso, muito embora não se reconheça em Exú o poder de geração e sim o de transmutação.
4 - Blavatsky, H.P. - A Doutrina Secreta. Síntese de Ciência, Filosofia e Religião. Ed. Pensamento.
5 - Obra citada.
6 - Verger, P.F. - Os Orixás - Ed. Corrupio - 1981).

A INICIAÇÃO

Dentre os aspectos comuns às diversas formas de culto, distinguimos o fenômeno da possessão pelos Orisás, de forma ordenada e pressupondo sempre um processo de iniciação com características definidas.
A iniciação não é feita por simples vontade do adepto, mas sim, por determinação de seu Orisá, o que ocorre quase sempre de maneira inesperada: ou a pessoa começa a sofrer diferentes tipos de perturbações em sua vida, sejam de ordem psíquica ou de qualquer outra ordem, mas que servem sempre de sinal para que se constate a chamada da divindade, ou a entidade se apossa violenta e repentinamente de seu filho, lançando-o ao solo, absolutamente inconsciente, fenômeno que é conhecido, dentro das casas de candomblé como "bolação".

A partir desse momento, sob pena de vários problemas que poderão advir, o indivíduo escolhido deverá submeter-se à iniciação no culto, sob a orientação do chefe do terreiro denominado Babalorixá (pai-de-santo) ou Iyalorixá (mãe-de-santo).

A iniciação tem por finalidade, além de estabelecer um vínculo definitivo e irreversível entre o Orisá e o iniciando, desenvolver a capacidade de desdobramento da personalidade deste último que deverá, a partir de então, ser eventualmente substituída pela da Divindade a que tenha sido consagrado, que se manifestará através de incorporação ou possessão.

A possessão deverá ser plenamente assumida e, no período de enclausuramento exigido pelo processo iniciático, os eleitos aprendem, sob a orientação de um iniciado de cargo sacerdotal, técnicas corporais estereotipadas, danças representativas de seu Orisá, rezas, cânticos e posturas procedimentais adequadas à sua nova condição religiosa.

 “... O Deus pode, desde logo, apoderar-se do corpo de sua filha, cuja personalidade desaparece momentaneamente para ser substituída pela do Orisá individual. O ser humano possui, portanto, desde que iniciado, feito, duas personalidades aparentadas. A primeira é aquela que deriva da família imediata, do ambiente em que o indivíduo nasceu e cresceu. A segunda é a de um antepassado mítico, de um pai sobrenatural que se desenvolve a partir da iniciação e se manifesta na possessão" . 
Segundo Pierre Verger: "A iniciação não comporta essencialmente a revelação de um segredo; ela cria no noviço uma segunda personalidade, um desdobramento místico inconsciente”.

É Esú quem, representando a coletividade dos Orisás, irá promover a transformação desejada, ensejando o surgimento da personalidade do iniciado em substituição à personalidade do ser profano.
A verdadeira iniciação há de ser, de certa forma, uma experiência dolorosa, durante a qual, a personalidade profana permanece como morta, ressuscitando em seguida já dotada das características que distinguem o iniciado. Por este motivo os adeptos costumam referir-se ao processo de iniciação utilizando-se do termo "passar pelo sacrifício" o que sem dúvida é revelador das condições às quais são submetidos durante o processo.

Conta um itan do Odu Osefun, que certo dia, Osun recebeu de Obatalá, a ordem de iniciar o primeiro ser humano no culto aos Orisás.
Havendo selecionado entre muitos, aquele que viria a ser o primeiro iniciado, Oxun tratou de seguir as orientações fornecidas pelo grande Orisá-Funfun, contando para isto com o auxílio de Elegbara e Osaiyn, além das orientações de Orunmilá.

Todos os preceitos foram seguidos à risca e era Orunmilá, através da consulta ao oráculo, quem traduzia as orientações emanadas de Obatalá.
Ao fim da cerimônia, verificou-se uma total mudança na personalidade do iniciado que, de pessoa comum, transformou-se num ser excepcional, dotado de profundo sentimento religioso e plena dedicação ao culto para o qual havia sido preparado.

Diante deste fato, Osun, percebendo que jamais seria possível a obtenção de um ser humano de tantas qualidades, intercedeu junto ao Grande Orixá para que o sacerdote fosse preservado do toque de Iku.
Obatalá, em sua imensa sabedoria, não querendo interferir na lei natural que determina que todos os seres vivos devem um dia ser entregues aos cuidados de Iku, admitiu a possibilidade de eternizar, apenas simbolicamente, aquele a quem foi confiada a propagação de sua própria religião e desta forma, ordenou que sobre sua cabeça fosse colocado o oxú, transformando-o, imediatamente, numa ave a que deu o nome de Etú (galinha d'Angola) .

Quando o iyawo é recolhido, depois dos preceitos obrigatórios à Egun (Ancestrais) e Esú, que não nos cabe descrever no presente texto, será então colocado em contato direto com os primeiros procedimentos litúrgicos que visam o processo de transmissão do Asé.
Durante a cerimônia de iniciação, procede-se a um ritual denominado Sasaiyn, em louvor do Orixá Osaiyn, dono e senhor de todos os vegetais e, por conseguinte, das folhas sagradas, indispensáveis em qualquer procedimento litúrgico, o que é confirmado pela máxima Yoruba: "KOSI EWÉ, KOSI ORISÁ", (sem folhas, sem Orixá), o que ocorre no terceiro dia de enclausuramento do iniciando.

A seleção das folhas litúrgicas utilizadas neste cerimonial varia de casa para casa, o que significa dizer que, embora seja estritamente obrigatória a presença das folhas do Orisá que está sendo feito, alguns sacerdotes acrescentam também as folhas de seu próprio Orisá, outros juntam aí, as folhas do adjuntó (Orisá responsável pelo equilíbrio, masculino ou feminino) do iyawo, como também folhas específicas de Obatalá.

Os Orisás são invocados e seus poderes individuais são catalisados em forma de Asé, que Esú, em sua função de elemento transportador, irá direcionar em favor do iyawo, para que a metamorfose possa se concretizar plenamente.
O ritual divide-se em duas partes distintas. Na primeira parte somente as energias geradoras são invocadas, com exceção de Obatalá (Osalá), que embora sendo um Orisá gerador, por uma questão de hierarquia, é invocado e saudado no final da segunda parte, quando os Orisás provedores são homenageados e têm seus poderes invocados em favor do iyawo.

Esú não cria nem se intitula pai de nada nem de ninguém, limitando-se, outrossim, a promover transformações em todos os sentidos.

Alguns Orisás, por acumularem as funções de provedores e geradores, são invocados nas duas etapas do rito. Para melhor compreensão das funções específicas de cada Orisá, os sacerdotes do culto dividiram-nos em duas categorias, nas quais não são considerados seus posicionamentos hierárquicos. (Nestas categorias são classificados como Orisás geradores e Orisás provedores).
Como Orisás geradores são considerados todos aqueles que, de alguma forma, possuem o poder de gerar qualquer tipo de manifestação de vida, e dentre eles encontramos: Iyemanjá, Nanã, Ogun, Omolú, Oxalá, Oxun, Oyá e Xangô

Os Orisás provedores são todos aqueles que têm, como atribuição, suprir, em todos os aspectos, as necessidades dos seres gerados pelas entidades anteriormente relacionadas. São eles: Esú, Iyemanjá, Logunedé, Nanã, Obá, Ogun, Omolú, Osaiyn, Oxalá, Oxóssi, Oxumarê, Oxun e Yewá.

Como podemos observar, Ogun, Iyemanjá, Nanã, Omolú e Oxun, por acumularem as duas funções, são relacionados nas duas categorias.
O Olorí do iyawo será sempre invocado nas duas partes do ritual, independente de pertencer a qualquer dos dois aspectos.
A primeira parte do rito precede ao "orô do labé", durante o qual, o iniciando é submetido à raspagem de cabeça, além de outros procedimentos indispensáveis à sua consagração ao Orisá.

A finalidade, como afirmamos acima, é obter-se o consentimento dos Orisás geradores, para que possa ocorrer o surgimento de uma nova personalidade, dotada de um caráter religioso que deverá sobrepor-se, definitivamente, à personalidade anterior. É necessário que as entidades invocadas emprestem seu Asé ou força propulsora, para que o fenômeno possa se verificar com pleno sucesso e sem a interferência de outros seres espirituais, como Egun e Ajé que, por qualquer motivo, queiram interferir no processo o que, sem sombra de dúvidas, resultará num fracasso total, cujas conseqüências podem ser altamente negativas.

terça-feira, 5 de julho de 2011

Postura dentro do Candomblé

Eis um tema bem complexo e muito vasto de se debater e se abordar,todos temos uma visão,sobre este assunto,mas devemos todos chegar a um só entendimento para que nossa religião não fique sendo alvo de maiores preconceitos os quais já se possuem. Vendo atualmente algumas fotos em sites de relacionamentos ,por sinal um bem famoso,pude notar uma situação bastante chocante a qual seria também um bom exemplo a citar, uma foto de um senhor bem gordo vestido de tranca rua,com seu devido assentamento diante dele,falta um bom senso enorme
Devemos manter uma postura e nos privar de nos expor em certos assuntos até mesmo para manter o culto mais reservado e evitando assim comentários maldoso por aqueles que não conhecem o culto e na verdade não tem a intenção de conhece-lo,vivemos numa sociedade preconceituosa e perseguidora,nos preservar e uma forma de vivermos bem com todos que estão ao nosso redor,assim as comunidades logo iram nos respeitar,algumas critérios deveriam ser evitados tipos:

Não postar fotos de pessoas vestidas de Esú
Não postar fotos dos Igbás
Não postar fotos de suas matanças
Não postar fotos de oferendas
Manter os locais limpos
Evitar colocar suas oferendas em vias publicas
Manter sempre limpo os lugares de cultos
Ter postura ética

Orumila

Osala