sexta-feira, 19 de agosto de 2011

Iyá Nasso

Iya Nassô Ylorixa conhecida como fundadora do Mitico Candomblé da Barroquinha juntamente com outras duas Iyas preservadas na tradição oral do Candomblé bahiano de Ketu Iya Akala e Iya Adeta são ladeadas de mistérios e segredos em um tempo quase imemoravel.
No entanto nos últimos anos muitos tem sido os interessados em desvendar este mistério que paira sobre a origem do Candomblé de Ketu. Além de Pierre Verger, Vivaldo Costa Lima, Nina Rodrigues entre outros, temos alguns contemporâneos como Renato da Silveira e Lisa Earl Castilho que trazem a tona muitos documentos que apontam para desmitificação desta história.

Em sua pesquisa documental Lisa Earl Castilho, que foi publicada pela revista Afro-Asia em sua edição 36 de 2007. Ela através de uma pesquisa profunda nos arquivos públicos da Bahia traz a luz inumeros documentos como testamentos, ocorrências policiais, cartas de alforria, petições entre outros que apontam a identidade "brasileira" de Iya Nasso, que como ja esclarecido por diversos entendidos do assunto, é o nome de um titulo da corte do Alafin de Oyo, responsável pelo culto a Sango e divindades secundarias ligadas a este no palacio de Oyo, importante cidade-estado durante séculos.

Através do testamento deixado por Marcelina da Silva (Obatossi) em que ela descreve seu desejo em que seja celebrada in memorian missa a seus antigos senhores Jose Pedro Autran e Francisca Silva casados, moradores da Ladeira do Passo, na Freguesia do Passo em Salvador e seu filho Domingos a pesquisadora da inicio a uma serie de desenrolares na história acerca dessa figura lendária.
Através de outros documentos, ela identifica que este senhores a que Marcelina (Obatossi) cita em seu testamento eram negros da Costa forros libertos, e também proprietário de escravos, já que naquela época a posse de escravos era considerado um investimento seguro e lucrativo, mesmo por parte de ex escravos, que apesar do preconceito existente ascenderam economicamente na Bahia daqueles tempos. Esta senhora e seu marido Jose Pedro Autran constam em muitos documentos principalmente em concessão de alforrias, em especial em fevereiro de 1937 que concederam mais de 15 alforrias a seus escravos inclusive Marcelina (Obatossi) e sua filha a crioula Magdalena constando mais tarde em Outubro na alfândega registros destes e seus escravos alforriados vistos para viagem a África mais especificamente a Costa como era conhecida aquela região da África naqueles tempos. Isso comprova o que diz a tradição oral a respeito da viagem a África por Iya Nasso e Obatossi relatada por Mãe Senhora a Pierre Verger e Costa Lima.
Mas o fato motivador da viagem desta de volta a África pode ter sido por outras razões que não o de aperfeiçoar seu conhecimento a respeito do culto aos Orisás.
Considerando a hipótese apontada pela pesquisadora de que Francisca Silva seria a lendária Iya Nassô, "comprovada" por toda documentação pesquisada, esta teria saido do Brasil por conta da perseguição estabelecida pelas autoridades após a revolta do malês na Bahia, tendo seu filho como um dos suspeitos da insurreição. Ela em defesa de seu filho, Domingos, citado por Obatossi em seu testamento opta por deixar o país em troca de seu filho ser deportado. Segundo a pesquisadora após Outubro de 1837 nada mais indicava um retorno de Francisca Silva (Iya Nassô) a Bahia, tendo possivelmente falecido por lá. No entanto em meados nos anos de 1840 documentos voltam a apontar Marcelina Silva (Obatossi) tais como registros de batismo, escrituras de imóveis apontando que esta voltou da viagem a África e se estabeleceu novamente na Bahia, possivelmente assumindo o culto deixado por Iya Nassô, e mais tarde fundando o Terreiro da Casa Branca o Ilê Axe Iya Nassô Oka.

Na pesquisa um outro descrito interessante refere-se a prisão de seus filhos suspeitos de participantes da Revolta do Malês, ns ocorrências policiais testemunhos de pessoas próximas da casa de Francisca Silva descreve festas com a presença de um grande numero de nagos, vestidos de branco e vermelho com colares no pescoço, cânticos em língua yoruba, possivelmente um culto a Sango já que seu outro filho Thomé possuía registro de origem, ele vinha de Oyo.
Todos estes fatos documentados apontam para uma hipótese bastante concreta de que Francisca Silva tenha sido Iya Nassô e que esta tenha de fato trazido consigo o culto a Sango e talvez outras divindades secundarias daquela região de Oyo, e tenha voltado a África sem retorno a Bahia, porem deixado para sempre seu nome registrado na história do Candomblé de Ketu, sucedida anos depois por Marcelina Silva (Obatossi) que mais tarde o lado de Iya Adeta e Akala fundam a Casa Branca.

Concluindo todos estes fatos constatados a hipótese é de que Iya Nassô tenha sido mesmo a Sra Francisca Silva e tenha cultuado Sango em sua própria casa até sua partida para África, permanecendo no Brasil ainda Iya Adeta e Akala que promoviam também em suas casas cultos a Odé (Oxossi) e Aira. A outra hipótese que conclui-se é que o Candomblé da Barroquinha a que todos se referiam eram os festejos realizados no salão de festa anexo a Igreja da Barroquinha, sede da Irmandade do Martirios, aonde realizam a sombra do sincretismo festas a seus Orixás, o Candomblé como conhecemos hoje so teria passado a existir a partir da fundação da Casa Branca.

Oração São Francisco de Assis

Senhor, fazei-me instrumento de vossa paz.
Onde houver ódio, que eu leve o amor;
Onde houver ofensa, que eu leve o perdão;
Onde houver discórdia, que eu leve a união;
Onde houver dúvida, que eu leve a fé;
Onde houver erro, que eu leve a verdade;
Onde houver desespero, que eu leve a esperança;
Onde houver tristeza, que eu leve a alegria;
Onde houver trevas, que eu leve a luz.
Ó Mestre, Fazei que eu procure mais
Consolar, que ser consolado;
compreender, que ser compreendido;
amar, que ser amado.
Pois, é dando que se recebe,
é perdoando que se é perdoado,
e é morrendo que se vive para a vida eterna

quarta-feira, 17 de agosto de 2011

História Zé Pilintra


José Emerenciano nasceu em Pernambuco, filho de uma escrava forra com seu ex-dono, teve algumas oportunidades na vida.Trabalhou em serviços de gabinete, mas não suportava a rotina.Estudou, pouco, pois não tinha paciência para isso.
Gostava mesmo era de farra, bebida e mulheres, não uma ou duas, mas muitas. Houve uma época em que estava tão encrencado em sua cidade natal que teve que fugir e tentar novos ares.Foi assim que Emerenciano surgiu na Cidade Maravilhosa.

Sempre fiel aos seus princípios, está claro que o lugar escolhido havia de ser a Lapa, reduto dos marginais e mulheres de vida fácil na época.
Em pouco tempo passou a viver do dinheiro arrecadado por suas "meninas", que apaixonadas pela bela estampa do negro, dividiam o pouco que ganhavam com o suor de seus corpos.
Não foram poucas as vezes que Emerenciano teve que enfrentar marginais em defesa daquelas que lhe davam o pão de cada dia.E que defesa!
Era impiedoso com quem ousasse atravessar seu caminho.
Carregava sempre consigo um punhal de cabo de osso, que dizia ser seu amuleto, e com ele rasgara muita carne de bandido atrevido, como gostava de dizer entre gargalhadas, quando nas mesas dos botecos de sua preferência.
Bebia muito, adorava o álcool, desde a cachaça mais humilde até o isque mais requintado.E em diversas ocasiões suas meninas o arrastaram praticamente inconsciente para o quarto de uma delas.
Contudo, era feliz, ou dizia que era, o que dá quase no mesmo. Até que conheceu Amparo, mulher do sargento Savério.

Era a visão mais linda que tivera em sua existência. A bela loura de olhos claros, deixava-o em êxtase apenas por passar em sua frente.
Resolveu mudar de vida e partiu para a conquista da deusa loura, como costumava chama-la.
Parou de beber, em demasia, claro!
Não era homem também de ser afrouxado por ninguém, e uns golezinhos aqui e ali não faziam mal a ninguém.
Dispensou duas de suas meninas, precisava ficar com pelo menos uma, o dinheiro tinha que entrar, não é?
Julgava-se então o homem perfeito para a bela Amparo.
Começou então a cercar a mulher, que jamais lhe lançara um olhar.
Aos amigos dizia que ambos estavam apaixonados e já tinha tudo preparado para levá-la para Pernambuco, onde viveriam de amor.

Aos poucos a história foi correndo, apostas se fizeram, uns garantiam que Emerenciano, porreta como era, ia conseguir seu intento.
Outros duvidavam Amparo nunca demonstrara nenhuma intimidade por menor que fosse que justificasse a fanfarronice do homem.

O pior tinha que acontecer, cedo ou tarde.
O Sargento foi informado pela mulher da insistente pressão a que estava submetida.
Disposto a defender a honra da esposa marcou um encontro com o rival.
Emerenciano ria, enquanto dizia aos amigos:
- É claro que vou, ele quer me dar a mulher? Eu aceito! Vou aqui com meu amigo...
- E mostrava seu punhal para quem quisesse ver.

Na noite marcada vestiu-se com seu melhor terno e dirigiu-se ao botequim onde aconteceria a conversa.
Pediu uísque, não era noite para cachaça, e começou a bebericar mansamente.
Confiava em seu taco e muito mais em seu punhal.
Se fosse briga o que ele queria, ia ter.
Ao esvaziar o copo ouviu um grito atrás de si:
- Safado!
- Levantou-se rapidamente e virou-se para o chamado.

O tiro foi certeiro.

O rosto de Emerenciano foi destroçado e seu corpo caiu num baque surdo.
Recebido no astral por espíritos em missão evolutiva, logo se mostrou arrependido de seus atos e tomou seu lugar junto a falange de Zé Pelintra.

Com a história tão parecida com a do mestre em questão, outra linha não lhe seria adequada.
Hoje, trabalhador nos terreiros na qualidade de Zé Pelintra do Cabo, diverte e orienta com firmeza a quem o procura.
Não perdeu, porém a picar dia dos tempos de José Emerenciano.
Sarava Seu Zé Pelintra!

quarta-feira, 3 de agosto de 2011