terça-feira, 3 de maio de 2011

Ogum no Novo Mundo


Ogum no Brasil é conhecido, sobretudo como deus dos guerreiros. Perdeu sua posição de protetor dos agricultores, pois os escravos, nos séculos anteriores, não possuíam interesse pessoal na abundância e na qualidade das colheitas e, sendo assim, não procuravam sua proteção neste domínio. Isso explica, igualmente, pouco a pouco que os iorubas, escravos no Brasil, deram ao Òrişà Oko, cujo culto continuou popular na África. Como deus dos caçadores, Ogum foi substituído por Osossi, trazido à Bahia pólos africanos de Kêto, fundadores dos primeiros candomblés desta cidade.

Ogum recebe na Bahia sete nomes próximos daqueles com os quais ele é designado na África. Existem algumas variações nas listas dadas pelas pessoas interrogadas, mas os nomes mais  freqüentemente mencionados parecem ser: Ogum Onirê, Ogum Akorô, Ogum Alagbedê, Ogunjá, ogum Mejê, Ogum Omini, Ogum Warí.

As pessoas consagradas a Ogum usam colares de contas de vidro azul-escuro e, algumas vezes, verde. Terça feira é o dia da semana que lhe é consagrado. Como na África ele é representado por sete instrumentos de ferro, pendurados em uma haste do mesmo metal, e por franjas de folhas de dendezeiro desfiadas, chamadas màrìwò.
Seu nome é sempre mencionado por ocasião de sacrifícios dedicados aos diversos orixás no momento em que a cabeça do animal é decepada com uma faca – da qual ele é o senhor.

É também o primeiro a ser saudado depois que Exú é despachado. Quando Ogum se manifesta no corpo em transe de seus iniciados, dança com ar marcial, agitando sua espada e procurando um adversário para golpear. É, então, saudado com gritos de “Ogum ieee!” (“Olá, Ogum!”). É sempre Ogum quem desfila na frente, “abrindo caminho” para os outros orixás, quando eles entram no barracão nos dias de festa, manifestados e vestidos com suas roupas simbólicas.
Na Bahia, Ogum foi sincretizado com Santo Antônio de Pádua. Expressamos já  num capítulo precedente nossa surpresa a respeito da aproximação do deus ioruba e esse santo, geralmente representado com um ar doce a envolvente, bem como a propósito das surpreendentes honras militares que lhe foram concedidas. No Rio de Janeiro, é com São Jorge que Ogum foi associado, o que é mais compreensível, pois ele é representado em suas imagens como um valente guerreiro, vestido com uma brilhante armadura, montado em um fogoso cavalo, às curvetas, e armado com uma lança com a qual ele transpassa um dragão encolerizado.

Em Cuba, Ogum é sincretizado com São João Batista e São Pedro.
No Haiti, “a família dos Ogous engloba o conjunto dos loas nagôs, os orixás iorubas. Encontra-se aí:
“O pai e chefe dos Ogous, Papa Ogou, sincretizado com São Tiago Maior;
Ogou Ferraille, sincretizado com São Felipe;
Ogou Olisha (Obatalá) sincretizado com São Raimuido;
Ogou Balinjo (que existe na África em Dassa Zumê), sincretizando com São Tiago Menor ou São José;
Ogou Djamsan (Iansã-Oiá) e Ossange (Ossain) fazem parte da mesma família dos Ogous, mas não sabemos com que santos eles são sincretizados;
Enfim, Ogou Chango (Sangô), que, sob influência de Cuba, foi sincretizado com santa Bárbara 

Arquétipo

O arquétipo de Ogum é o das pessoas violentas, briguentas e impulsivas, incapazes de perdoarem as ofensas de que foram vítimas. Das pessoas que perseguem energeticamente seus objetivos e não se desencorajam facilmente. Daquelas que nos momentos difíceis triunfam onde qualquer outro teria abandonado o combate e perdido toda a esperança. Das pessoas que possuem humor mutável, passando por furiosos acessos de raiva ao mais tranqüilo dos comportamentos. Finalmente, é o arquétipo das pessoas impetuosas e arrogantes, daquelas que se arriscam a melindrar os outros por uma certa falta de discrição quando lhe prestam serviços, mas que, devido à sinceridade e fraqueza de suas intenções, tornam-se difíceis de serem odiadas.

ÒGÚNJÀ OU ÒGÚN JÀ: é quando ele exerce a sua atividade de guerreiro, militar e querelante. é quando ele realmente está para briga.

ÒGÚN SÓRÓKÈ:
Tida como uma das “qualidades” mais conhecidas, violentas e preferidas de Ògún, mas, que na verdade significa:
SÉ ORÍ ÒKÈ - que contraído dá Sórókè. Dizem, que é um Ògún bravo e sanguinolento como resultado de sua “mistura” com Èsù.

Uma das lendas de Ògún, conta que Ele estava no alto da montanha, para onde ia quando saía à caça, pois, Ele é também um Òrìsà Ode (Caçador).

Essa lenda inicia-se por contar que: OJÓ NTÍ ÒGÚN SÓRÓKÈ BO...” (No dia em que Ògún estava no alto da montanha e desceu...). Esse era o dia que Ele havia marcado para seu retorno à cidade. Mas, diz essa mesma lenda, que Ògún é um Òrìsà que não suporta que o ignorem. Ele é ÒRÌSÀ PÀTÀKÌ (importante), e não tolera que não lhe dêem a devida importância e atenção. Nessa cidade morava, na mesma época, um desafeto de Ògún, que era conhecido como um grande feiticeiro (Osó), que se chamava Àparò Degbeaha. E sabedor desse fraco de Ògún, Àparò organizou uma cerimônia ritual na cidade, em que as pessoas teriam que ficar sem falar, comer e beber por um dia inteiro. E esse dia coincidiria com o dia da chegada de Ògún, somente para irritá-lo.
Quando Ògún chegou na cidade, ninguém falava com Ele, ninguém o saudou como Òrìsà importante, aquilo já o deixou enfurecido. Mas, como Ele estava com fome, dirigiu-se a uma cantina para que lhe servissem comida e emu (vinho de palma). Chegando lá, ninguém o saudou, nem lhe dirigiu a palavra. Ele pediu que lhe dessem comida e bebida, mas, ninguém lhe respondeu alguma coisa ou serviu-o, porque naquele dia era dia de abstinência total. Quando Ele insistiu e mais uma vez foi ignorado, pegou o facão e golpeou os barris de vinho, derramando tudo no chão; quando vieram para impedir que Ele fizesse aquilo, Ele cortou as  pessoas ao meio. E dizem, que quando Ògún fica nervoso, ele perde completamente o juízo. E assim foi. Ele matou homens, mulheres, crianças e depois foi para casa. No dia seguinte foram à sua casa para lhe pedirem que Ele não continuasse zangado com o povo da cidade, e lhe explicaram o que tinha acontecido e do festival organizado por Àparò. Quando tomou conhecimento de tudo, Ògún ficou enfurecido, mas, desta vez, contra Àparò. Pois, ao saber que matara tantas pessoas inocentes por causa dele, Àparò, Ògún sentiu grande arrependimento, mas, o mal já estava feito. Ele saiu à procura de Àparò, este quando avistou Ògún vindo em sua direção, fugiu. Mas, Ògún perseguiu-o. Àparò estava desesperado, pois, sabia que Ògún não teria compaixão dele. Então, fugiu, mas, Ògún o perseguiu, e quando estava quase sendo alcançado por Ògún, Àparò transformou-se num pássaro e voou para o alto do igi opé (a palmeira de Òrúnmìlà). Como era uma palmeira sagrada, ele achava que Ògún não a tocaria. Mas, estava enganado, Ògún começou a golpear a palmeira, acabando por derrubá-la. Num último esforço de esperança, Àparò, escondeu-se por entre as folhas da palmeira, pois, achava que Ògún não cometeria o sacrilégio de destruir toda a palmeira de Òrúnmìlà. Estava enganado novamente. Ògún desfolhou a palmeira e agarrou Àparò, que pediu clemência, mas Ògún sem responder nada, cortou-lhe a cabeça que rolou diante de si, que se sentiu vingado. Como Àparò era um feiticeiro poderoso, não morreu imediatamente.  Ele olhou para Ògún e lançou uma praga, dizendo: “Você Ògún, insensato que é, na hora da minha morte eu lhe coloco meu último feitiço, o de que você haverá sempre de fazer coisas na hora da raiva e se arrepender tardiamente, como foi hoje. Essa maldição cairá sobre você  Ògún e todos os seu filhos, que haverão de fazer coisas na hora da raiva e se arrependerem  depois, quando já não houver mais conserto”.
E tendo dito isto, morreu. A história conta que foi a partir daí que Ògún sempre que ia matar um desafeto, amarrava suas mãos, pés e prendia sua boca, para que ele não lhe rogasse praga, como Àparò. Daí também, os sacerdotes que executavam sacrifícios, passaram a imobilizar suas vítimas porque também temiam a praga de Àparò Degbeaha. É o que fazemos até hoje quando vamos sacrificar qualquer animal no ritual, prendemos suas bocas ou bicos, patas e asas, para que não se debatam. Esse debater é interpretado como uma praga na hora da morte, e não se quer dar chance a nenhuma das vítimas dos sacrifícios de amaldiçoarem seus executores. Como dizia na maldição de Àparò, Ògún não sentia paz por causa de ter matado tanta gente inocente. Então, reuniu as pessoas da cidade e disse-lhes que iria embora e que só voltaria se precisassem da sua ajuda. Mas também deveriam reverenciá-lo e saudá-lo assim: “Pàtàkì Òrìsà”. Então, enfiou sua espada no chão e sumiu por dentro da terra. E conta ainda, que Òrúnmìlà, não permitiu que essa praga caísse por sobre todos os filhos de Ògún, que também eram inocentes, e ensinou-os um oríkì que diz:

“MÁ JÉKÍ ORÍ MI RÍ ÌJÀ ÒGÚN...”
(Não permita que minha cabeça veja a briga de Ògún).
Pois dizem que a cabeça que vê a briga de Ògún, torna-se maluca, a pessoa enlouquece totalmente. A história foi um pouco longa, mas ela tem relação com a fama do mau comportamento de “Ògún Sórókè”, que não é qualidade, mas algo que se diz sobre Ògún.


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